Evento contou com palestra de Kwang Poo Chang, da Chicago Medical School, que falou sobre o uso da Leishmania como veículo de vacinas contra doenças infecciosas e câncer
Na quinta-feira última (29/08), a edição especial do Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) reuniu três gerações de estudiosos que abraçaram a missão de produzir conhecimento científico sobre as leishmanioses, agravos negligenciados que já matam mais do que a dengue em nove estados brasileiros. Foram homenageados cinco pesquisadores responsáveis por consolidar grupos de pesquisa de excelência na área: Sérgio Gomes Coutinho e Sylvio Celso Gonçalves da Costa, do IOC; o casal Keyla Belizia Feldman Marzochi e Mauro Célio de Almeida Marzochi, ambos do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC/Fiocruz); e Gabriel Grimaldi Filho, da Fiocruz-Bahia, que não pôde comparecer. Eles foram agraciados com a medalha comemorativa da ‘Semana Nacional de Controle e Combate às Leishmanioses’, celebrada entre 5 e 9 de agosto.
Gutemberg Brito |
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Pesquisadores da Fiocruz (de pé) que participaram das homenagens aos cinco mentores da área de leishmanioses (sentados): discursos emocionados |
Organizaram o evento os pesquisadores Fátima Conceição Silva e Carlos Roberto Alves, do Laboratório de Imunoparasitologia e do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC, respectivamente. Fátima ressaltou que o cenário é desfavorável ao controle da leishmaniose visceral, forma mais grave da doença. “Vemos uma rápida expansão no Brasil com a dificuldade do controle nas áreas urbanas. Precisamos de produção de informação que seja acessível não só a nós, mas também à sociedade civil e aos tomadores de decisão”, disse Fátima, completando que o engajamento de todas as áreas de estudo das leishmanioses é essencial para ampliar horizontes de trabalho. Esta foi a primeira iniciativa do IOC para a ‘Semana Nacional de Controle e Combate às Leishmanioses’, instituída pelo Ministério da Saúde (MS) em 2012.
No evento, foi inaugurada, ainda, uma exposição sobre a história das leishmanioses. A mostra estará aberta à visitação do público gratuitamente até 6 de setembro, no hall do auditório Emmanuel Dias (no Pavilhão Arthur Neiva, no campus da Fiocruz em Manguinhos). A iniciativa é apoiada pelo IPEC, Instituto de Comunicação, Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).
Protozoário para o desenvolvimento de vacinas
O pesquisador Kwang Poo Chang, da Chicago Medical School, abriu a sessão com a palestra intitulada ‘Photo-inactivation of Leishmania with ROS as vaccines and vaccine carriers against infectious and malignant diseases’. Chang apresentou dados sobre a utilização do protozoário de gênero Leishmania, causador das leishmanioses, no desenvolvimento de vacinas vetorizadas. Neste sistema, o parasito é submetido à fotoinativação, mecanismo que impede sua reprodução no hospedeiro e o consequente desenvolvimento da doença. “O protozoário pode, então, atuar como veículo de antígenos contra diversas doenças infecciosas ou não, como a própria leishmaniose e o câncer”, disse. De acordo com o especialista, os resultados de testes com modelos experimentais de hamsters vêm se mostrando animadores. “Leishmanias crescem com facilidade em cultura e são capazes de gerar excelente resposta imune”, assegurou.
Gutemberg Brito |
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Kwang Poo Chang discorreu sobre o potencial da Leishmania para o desenvolvimento de vacinas vetorizadas |
Homenagens emocionadas
“Não podemos caminhar em direção ao futuro sem, antes, reverenciar o nosso passado. Os pesquisadores da área que estão em atividade na Fiocruz passaram por pelo menos um destes cinco mentores. São eles os grandes responsáveis por reiniciar e ampliar, na década de 1980, os grupos de pesquisa que hoje são referência dentro e fora do país”, disse Fátima. Desta forma, a medalha comemorativa da Semana foi entregue aos cinco agraciados por ex-alunos que, hoje, compõem o quadro de pesquisadores da Fiocruz. Discursos emocionados acompanharam as homenagens.
Gutemberg Brito |
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Da esquerda para a direita, o casal Marzochi; Sylvio Celso Gonçalves da Costa e Sérgio Coutinho. O quinto homenageado, Gabriel Grimaldi, não pôde comparecer |
Coube às pesquisadoras Alda Maria da Cruz e Claude Pirmez, do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas Médicas do IOC, homenagear o ex-diretor do Instituto Sérgio Gomes Coutinho. Ambas conheceram Coutinho quando eram estudantes de medicina, durante o curso de verão de Parasitologia ministrado por ele na Fiocruz. “Nunca tive interesse pela área e me inscrevi no curso porque alguns amigos me chamaram. Mas Sérgio fez com que eu fosse picada por esse ‘bicho’ da parasitologia e me iluminou os caminhos da Pesquisa”, disse Claude. Já Kátia Calabrese e Tânia Zaverucha do Valle – chefe e pesquisadora do Laboratório de Imunomodulação e Protozoologia que entregaram a medalha a Sylvio Celso Gonçalves da Costa - ressaltaram o lado paterno do pesquisador. “Trabalhar com Sylvio Celso é como fazer parte de uma grande família. Se você não passou por esta experiência, é uma lástima”, afirmou Kátia.
Ao lado da tecnologista do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC/Fiocruz) Aline Fagundes, Fátima Conceição Silva entregou a medalha a Keyla Belizia Feldman Marzochi, ex-diretora do Hospital Evandro Chagas e do IPEC. Já Carlos Roberto Alves e Armando Schubach (IPEC) homenagearam Mauro Célio de Almeida Marzochi. Pesquisador da Fiocruz-Bahia e conhecido por fundar a Coleção Biológica de Leishmania do IOC, fiel depositária do Ministério do Meio Ambiente, Gabriel Grimaldi não pôde comparecer à cerimônia. Quem recebeu a medalha em seu nome foi o pesquisador Antonio Teva, do Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose.
Como parte do evento, foi realizada a apresentação de trabalhos científicos em formato de pôsteres por Laboratórios da Fiocruz, na área externa do Pavilhão Arthur Neiva.
Isadora Marinho
02/09/2013
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